26 de fevereiro de 2007

Preto no Branco

Pudesse eu descrever a escrita e diria que é como uma pintura a preto e branco, uma pintura que parece nada transmitir e tudo transparece, uma intenção que se esbate e outra que ressurge, uma cor suave que transparece uma cor densa. É como pintar um dia de sol em dia de chuva, querer tocar uma melodia harmoniosa num piano desafinado, querer escrever o que nos vai na alma sem saber escrever. Tudo depende do ser que cria o desenho, a partitura e o texto. A profundidade das coisas não está na obra em si e sim na pessoa que cria, no artista que sofre para pintar um sol num dia cheio de lágrimas e nevoeiro, no músico que ainda desafinado o piano consegue percepcionar a melodia das notas que ecoam. O escritor? Esse apenas só quer mostrar o que sente e o que pensa e quer mostrá-lo por ser profundo e, chega a ser tão profundo que por vezes torna-se impossível de ser descrito de forma a ser verídico ou plausível. Talvez seja por isso que os poetas ou escritores ou simpatizantes da escrita sejam por vezes considerados loucos, loucos por dizerem coisas sem sentido e sem nexo quando pelo contrário são pessoas que conseguem dizer tudo aquilo que os outros não conseguem dizer. São condenados por dizerem verdades e condenados por aqueles que não sabem ler. Chega a ser ridículo mas esse ridículo não deixa de ser também uma verdade. Pobre daqueles que tem olhos e não conseguem ver.