30 de dezembro de 2007

Perdão

Incessantemente procedemos de forma errónea.

Falhamos propositadamente e pecamos. Somos seres humanos que fazemos da vida um triste pecado constante. Vivemos aceleradamente da excêntrica e eléctrica vontade de ter tudo o que se deseja ter. Queremos ser invencíveis e imortais num Mundo de cadáveres cadavéricos perdedores de vontade de ser alguém.

O corpo move-se não derivado a um sentimento ou dever.

A vontade move o Mundo. A ganância move a vontade. A avareza cria a ganância e... onde se encontram os singelos desejos de sonhar com a possibilidade de ser feliz, ainda que por um dia... uma hora... um segundo... um instante.

O que é ser feliz, na verdade?

Engano-me pensando que ainda existem pessoas que pensam de forma semelhante à minha, que sentem tal como eu sinto e que anseiam apenas, todos os dias, por um perdão...

Perdão porque também eu tenho ansiosas vontades materialmente viciantes de ter.

Perdão por ter de ser outro alguém para, assim, não me magoarem.

Perdão por ter de me esconder bem atrás destas letras simples que serenamente desenham palavras irmanadas de sentidos.

Já ninguém pede perdão porque já ninguém se preocupa com ninguém.

Cada um é um só.

Não há nada para perdoar.

Ainda assim, anseio todos os dias pelo meu perdão.

Anseio-o porque acredito que há mais que apenas um só.

Acredito porque acreditar é ser diferente num Mundo de iguais. É ser feliz ainda que por efémeros momentos efémeros. É chorar de alegria porque alguém reparou que estávamos bem ali... É ver e sentir todos os que estão longe da visão e não esquecê-los. É saber não esquecer quem somos e lutar por nunca o deixar de fazer.

Acreditar é saber esperar pelo momento...

E perguntas, tu, leitor Que Momento?

O momento de ser, não pelos outros mas por nós... por ti.

Eu acredito.

E peço perdão.

29 de dezembro de 2007

Cimo de mim...

Prisão transparente que reflecte uma tonalidade diferente da realidade... É uma boa forma de dizer ilusão... sonho ... irreal...
Todos vivemos mundos paralelos... entre o ser e o não ser... Onde somos seres perdidos cheios de cruas ambições ou na verdade somos pequenos seres que não sabem qual o seu verdadeiro ser.
Tal como o aprendiz secreto também eu subo à montanha do nada para assistir ao meu acontecer. Aconteço-me e sou... Aqui no cimo da montanha vejo tudo...contemplo-a e vejo, nada mais do que, o meu próprio reflexo, isto é, o reflexo dos meus desejos, das minhas angústias, dos meus problemas e dilemas. Todos estes problemas e angústias serão como que as paredes da minha construção sendo o interior desta, a minha verdadeira essência a qual permanece dentro destas paredes forradas de sentimentos.
A essência da minha construção será então a minha essência – uma simples brecha luminosa – que reflectirá ecos do passado que levarão à construção de um futuro, de um mundo novo que despertou e nasceu da força do ser.
Aqui bem no cimo consigo sentir o meu verdadeiro ser... despido de preconceito e materialismo. Despido de mentiras e falsidades. Aqui impera o silêncio como linguagem primordial. Ouço-me em ecos de alegria e simplicidade e sinto-me livre... tão livre que me atiro da montanha só para sentir a brisa suave e terna do vento doce.
Caio lentamente, como se tivesse a oportunidade de assistir a todos os momentos da minha vida... um a um...
E vou caindo... o chão aproxima-se mas não tenho medo...
Sou livre.
Posso morrer.

26 de dezembro de 2007

Broken...

Fly little angle with dark wings... be free to believe and to trust... We are all broken deep inside because we don't know how to feel alive, we don't know how to live without fear and pain!

Spread your wings and fly... little angle with dark eyes...

22 de dezembro de 2007

O Sorriso é a Sombra de uma Lágrima

Olho para trás. Vejo uma porta fechada. Curiosidade. Abri. Olho em frente e vejo tudo o que perdi.
Lembranças mudas gritam por mim, incessantemente, gritam por um nome, por um motivo, gritam para que ninguém as esqueça como se quisessem ser libertadas do esquecimento aterrorizante que é ser-se não lembrado. Não as posso libertar. Há muito que as abandonei porque não as sabia salvar. Não as sabia concretizar porque não podia... não podia... nunca pude... nada. Sempre fui esquecida também. Sempre fui não lembrada e é isso que não quero lembrar mais, que se esqueceram de mim quando eu estava ali, bem presente, à vista de todos os cegos que não me viram.
Como puderam se esquecer de mim se eu estava ali? Como puderam dizer que não me viam, mesmo em frente a mim? Como puderam se esquecer de mim... se... como puderam...
Vivo com esse esquecimento até hoje. E por vezes sinto que fiquei esquecida naquele momento que já foi há tanto tempo e que lá, ainda, estou... esquecida por todos aqueles que eu queria que se lembrassem, por todos aqueles que eu nunca esqueci e que agora queria esquecer mas não consigo... não consigo esquecer quem se esqueceu de mim por isso mesmo... porque se esqueceram de mim.
Desculpa.
Nunca o consegui fazer – perdoar. Nunca consegui apagar da minha memória o dia em que se esqueceram que eu estava ali, que estava ali, bem ali... na fila da frente... bem ali... na frente...Eu estava bem na frente... como foram capazes de me pedirem perdão? Será que, algum dia, se perdoaram, na verdade?
Não sei... à distância temporal em que me encontro, sinto que já não me magoa tanto lembrar tal dia. Ainda assim, sinto como se fosse hoje, sinto o que senti naquele... senti-me tão triste, tão fraca, tão vulnerável... nada que me pudessem dizer iria alterar um sentimento tão grande para um ser tão pequeno e jovem... sim! era um criança a viver um dia de imensa grandiosidade... dia esse que foi rasgado aos poucos, a cada minuto que passava...
Uma parte de mim ficou cinzenta nesse dia.
Nunca pensei que o cruzar com estas lembranças me fizessem sangrar tanto ou mais do que naquele. Roubaram-me a felicidade, roubaram-me o sorriso, roubaram-me a inocência...
Cresci.
Tenho de sair daqui... ter aberto esta porta faz-me lembrar que fui esquecida um dia e... não o quero sentir mais. Lembrar que me partiram o coração em lágrimas faz-me sentir revolta, vontade de gritar bem alto Porquê Eu? Porquê... Porque sempre me lembrei e por isso... me esqueceram...
Estas lembranças só me fazem reviver aquilo que sou, que sempre fui e sempre encobri ser e hei-de encobrir até que a alma me doa.
Fecho a porta.
Para trás fica aquilo que fui.
Sorrio... e ainda que seja um sorriso triste... Sorrio.
Se me vires sorrir, sorri também. Ainda que o meu sorriso seja triste sei que o teu será sempre sincero.
O meu sorriso será sempre a sombra de um lágrima.

21 de dezembro de 2007

Sentidos Desligados

Mão Leve
Toque de serena Luz
Sentimento Virgem
Que conquista e seduz

Brisa suave
Emanadora de alegria
Doce lágrima salgada
Feliz solidão fria

Palavras ao vento soltas
Sentimentos esvoaçantes nulos
Caras cobertas de veludo
Corações bordados de espinhos

Noite escura Feliz
Dia brilhante quebradiço
Pena leve triste
Letra de pedra dura
Faz da intocável amargura
Um poema de curtas estrofes

Lágrimas cintilantes
Constroem palavras cortantes
Brotadas de um pensamento constante
De uma Solidão inquietante

Palavras sem nexo
Com todo sentido ou nenhum
Ideias desligadas
Por um fio comum
São novelo de aço
Que faz meu Mundo só um...

20 de dezembro de 2007

Lágrima

Um sentimento sombrio invade o coração e fá-lo palpitar aceleradamente. Um aperto constante causa uma sensação de dor refinada que nos percorre o corpo de forma incessante e constante. Um frio arrepio de dor causa uma estranha fraqueza desconhecida que nos faz sentir como frágil cristal... que pode quebrar apenas com a brisa de um pequeno suspiro suave.As pernas enfraquecem, todo o corpo fica dormente e sem reacção.
Caímos no chão frio sem razão aparente. Já não conseguimos visualizar o sítio onde estamos porque começamos a perder a visão.Subitamente começamos a sentir o estômago contraído, a face começa a desenhar expressões de tristeza e as mãos auxiliam a chegada de um triste desabafo.Surge então o primeiro indício de grande grandiosidade, pureza e divindade... surge tudo aquilo que resume uma fraqueza, tudo aquilo que ninguém consegue esconder e ninguém evitar... surge o despoletar de todo um sentimento em constante evolução...
E assim brota a primeira lágrima do seco rosto entristecido. Como é bela uma lágrima. Incolor ser doce e límpido de maldade. Ainda que por vezes grande indício de tristeza não deixe de ser um milagre natural difícil de caracterizar e tão delicado de explorar.Qual a verdadeira origem da lágrima? Onde irá culminar? Não sabemos de onde vem mas rapidamente é absorvida pelo rosto dando lugar a outras lágrimas nunca iguais à lágrima primitiva que será sempre a verdadeira razão de todo um sentimento ardente ou descontente.
Porque choramos?
Porque choras?
Eu choro porque sinto que me liberto de todo um sentimento que me prende a alma de respirar, choro porque assim consigo expelir de dentro de mim todo um sentimento que meu corpo rejeita ou choro porque estou triste e assim me quero sentir.
A lágrima é o culminar do alcance do verdadeiro estado solitário, é sinal de vigília interior e reflexão pessoal.
A lágrima é, muitas vezes, a chave das portas da Solidão.

18 de dezembro de 2007

Requiem

Sinto frio!
Os meus olhos não conseguem distinguir a forma das coisas, tudo parecem manchas, sombras, ilusões ou talvez alucinações. Está muito frio. Já não sinto o meu corpo mas ainda assim sinto frio. Não sinto o bater do coração mas continuo a sentir frio. Já não vejo nada e o frio começa a dissipar-se ... Já não sinto nada. Lá longe os sinos da igreja tocam tristemente... não são horas... nem são as ave-marias... os sinos anunciam a morte de alguém. Não gosto nada do repicar fúnebre que os sinos ecoam, trazem tristeza e curiosidade. Ainda que seja um acontecimento triste, todos procuram saber quem faleceu e todos fazem questão de estar presentes para quê? Não vejo qual o sentido de ir para um funeral quando não se tem nenhum laço, ou ainda que tenha um pequeno vínculo... muitos dizem que vão por respeito e até ai compreendo mas, por vezes, como podem as pessoas serem capazes de dirigir uma palavra a uma pessoa que só quer controlar a sua dor, gritar bem alto que quer sair dali e que não precisa da pena de ninguém e só quer apenas um minuto de paz, de quietude e silêncio para chorar... e relembrar todos os momentos que deveriam ser lembrados em vida e não agora na morte.
Sinto frio.
Ouço pessoas a chorar, será que é alguém que conheço? A morte é algo que me assusta porque não sei como devo lidar com ela. Dizem que quando morremos só fica a alma, perdemos a forma que temos enquanto humanos e só fica uma pequena aragem, um pequeno respirar de alguém que já não respira mais. Parece que nos transformamos numa brisa leve incolor... Começo a ouvir ecos de uma melodia fúnebre bem pesada e grave. Ouço passos, pessoas a caminhar... sinto como se viessem mesmo atrás e mim mas não percebe porquê. Nestas alturas as pessoas alinham-se para seguirem a pessoa na sua ultima caminhada no mundo dos vivos. Muitos lamentam-se, outros choram aceleradamente e outros nem sabem o que sentir... ninguém sabe o que fazer perante tal potencia tão esmagadora e imprevisível.Não sei porque sinto tanto frio... mas afinal onde estou? Parece que estou a sonhar de olhos abertos mas está tudo tão sem cor, forma e cheiro?! Não sinto o meu corpo, não vejo e deixei de ouvir. Está tudo tão escuro e a única coisa que sinto é que... não sinto... não sinto nada...
Sinto frio, não vejo, não sinto e estou sozinha...
Afinal quem morreu?
Serás tu? Ou serei eu...


16 de dezembro de 2007

Revisitar-me...

Porque sinto tanto esta necessidade de recorrer à escuridão para escrever e pensar?... porque só o silêncio, o escuro e a solidão evocam em mim esta necessidade de me expressar? Sinto falta de o fazer. A agitação diária faz com que não me pense e me reflicta e isso faz-me ficar estanque sem evolução e sem saber o que escrever... ainda agora sinto vontade de tanto escrever, de me retratar e retratar este doce silencioso escuro canto solitário que me faz recordar de uma forma que só eu sou.

Saúdo as minhas vísceras mais profundas e repenso todo um passado que me caracteriza, cicatriza e molda o rosto da minha alma. É solitário sentirmos que não conseguimos comunicar com mais ninguém porque mais ninguém nos entende... porque não nos percebemos se falamos a mesma língua?

Sempre senti necessidade de me expressar, de me auto compreender porque sempre me considerei difícil de compreender, sempre cheia de restrições ocultas que só eu mesma podia descodificar.

Revisitar as minhas entranhas lembranças faz-me sentir dor... sinto o coração sangrar porque sinto que me estou a ferir ao revisitar locais tão obscuros, tão esquecidos mas dignos de ser visitados. No entanto, dolorosos de ser revividos.

É bom pensar-me. Faz-me crescer, aprender e conhecer.

Sempre gostei de sentir que bem dentro de mim existe um local que nunca ninguém irá encontrar, um local que nunca irei compreender e, por isso, um local que sempre irei procurar e visitar na ânsia de sempre encontrar algo que ainda não tenha conhecido, algo que já não me lembre...

Ainda que me sinta triste ao revisitar este lado de mim, gosto de o sentir e de o ser ainda que por solitários instantes efémeros.

20 de outubro de 2007

16 de outubro de 2007

Mudar-me....

Há alturas na vida em que todos sentimos vontade de mudar, ser outros ou ser de outra forma. Esta vontade de mudar advém, muitas vezes, da análise conscienciosa das nossas próprias atitudes e actos e se sentimos que temos de mudar, então algo se encontra errado... Seremos nós? Será o outro? O que mudou?

Por vezes sinto, eu própria, esta vontade de mudar... sinto que não é a forma correcta para viver, conviver e sentir isso faz-me mal... faz-me sentir inútil porque estou a ser algo que não estou a gostar de ser. Mas, porque devo mudar? Se ajo da forma que ajo é porque assim o sou. Então porque é que aquilo que sou me faz sentir mal?

Tudo questões que me fazem pensar e reflectir acerca de mim mesma e daquilo que me faz mover e mover a minha vida.

Sinto que preciso recuar, parar e reflectir. Colocar uma pausa no stress da vida e parar para organizar o pensamento. Considero-me desorganizada, sem rumo e isso reflecte-se na forma como dialogo, ajo e convivo com o mundo. Sinto como se estivesse numa sala cheia de papéis no chão, sem cadeiras, sem mesa, sem nada... só eu e os papéis espalhados pelo chão. Está na altura de apanhar os papéis e colocá-los todos no respectivo canto, empilhar todos os pensamentos da mesma cor na mesma esquina e meditar sobre eles. Preciso de ter a sala com espaço, com o centro completamente nu para poder sentar e olhar as diferentes cores que habitam na minha mente e me poder entregar à simplicidade de uma sala vazia, quieta, silenciosa onde apenas existo eu.

A agitada vida do ser humano desgasta-o de tal forma que parecemos todos cavernosos seres humanos que existem porque sim... por vezes penso que muitas pessoas nem se dão conta que vivem, que existem e que nada fazem para encontrar um espelho que reflicta a sua realidade pois a realidade é cruel e magoa... mais vale viver adormecido pela rotina e iludido pela fantasia que tem uma vida feliz.

Eu ainda não sei se sou feliz... sei que o sou, momentaneamente, em determinados instantes mas afinal o que é ser feliz senão apenas ser somente porque sim?


29 de setembro de 2007

O Sorriso é a Sombra de uma lágrima...

22 de junho de 2007

Medo de ter Medo

Caminho na rua relaxadamente até que repentinamente um súbito medo de caminhar namesma rua me assombra e povoa a alma e o pensamento. Não consigo mais andartranquilamente. Sombras vazias perseguem-me e assustam nesta rua vazia cheia de movimento.Continuo o meu caminho porém sem nunca olhar para trás, sem nunca mostrar que o que atrás demim, ainda que nada seja, me atormenta e aterroriza profundamente.O batimento cardíaco acelera desvairadamente e já não consigo controlar a adrenalinaque é ter medo de algo que não sabemos o que é e que nos recusamos saber porque não temoscoragem de olhar para trás para enfrentar qualquer tipo de realidade.Todo este sentimento de medo não se apoderou do meu corpo e sim da minha mente, porisso tenho medo, porque o estímulo que o meu pensamento emana para todo o meu corpo é defalta de conforto com o que nos rodeia porque há algo que está a acontecer de forma errada oude maneira diferente e vem assim quebrar uma rotina repetitiva e equilibrada.

Existência do Ser

Existimos porque vivemos e acabamos com a nossa existência porque vivemos.Viver...demais ou não... Bem ou mal... Tudo se dissipa... Tudo permanece igual!Queremos ser pessoas que nunca fomos e nunca seremos e idealizamos que somospessoas que na verdade não somos. Que somos nós na verdade, seres humanos, mais do que umfruto das nossas ilusões e mais recônditas aspirações de tudo aquilo que pensamos ser e nãosomos.Será que os outros nos encaram como realmente somos ou será que nos somos aquilo quequeremos transparecer ser, aquilo que queremos que os outros pensem que nós somos?Somos uma verdadeira ilusão para nós mesmos... Sombras que vagueiam na realidadeuma aparência que nada lhes diz, uma alma que não lhes pertence, uma vida que não condiz...Que pretende o ser humano demonstrar ao ser aquilo que quer ser e não aquilo que é?Será que fugimos de uma realidade da qual temos medo ou vergonha? Ou será que temosvergonha de nós mesmos... do nosso verdadeiro Eu e por isso fingimos ser múltiplos num só corpoe sermos nós mesmos apenas em sonhos e ilusões.O materialismo da realidade circundante ofusca a sinceridade da vida e a simplicidade epureza inocente da fonte branca de onde nossa sinceridade pessoal emana toda uma verdade etoda uma veracidade que se torna imperceptível de ver e distinguir num mundo material cheio deruído e almas cinzentas que se vestem de branco para encobrir a escuridão que nelas habita.

18 de maio de 2007

Felicidade Sofredora


Na minha alma ignóbil e profunda, dia a dia, as impressões que formam a substância externa da minha consciência de mim. Ponho as em palavras vadias, que me desertam desde que as escrevo, e erram, independentes de mim, por encostas e relvados de imagens, por áleas de conceitos, por azinhagas de confusões.
Fernando Pessoa
Sinto-me triste porque sim! Porque assim me preciso de sentir, porque assim me compreendo e entendo este estado depressivo que me tira o sono e faz meu pensamento viver dia e noite.
Rapidamente o meu batimento cardíaco se torna acelerado e parecendo que vai rebentar, saltar fora do peito e explodir de um sentimento de angústia que não sei descrever. Um sentimento de fúria acumulado que me faz sentir tão revoltada e tão frustrada com as atitudes que adopto para evitar este estado de profunda desconcentração mental e psicológica.
No entanto, sinto que este estado de profunda escuridão por vezes se torna necessário. A escuridão faz-nos ver com clareza as realidades da vida e as ilusões dos sonhos. Tantas pessoas vivem a realidade do dia tão intensamente e de forma tão efusiva mas será que são felizes? Será que alguma vez, ainda que por meros e efémeros segundos se consideraram felizes? Talvez sim e ainda bem se assim for.
Eu já me senti feliz por várias vezes mas só a noite me dá esse prazer, só a paz do silêncio quieto me proporciona a atmosfera que preciso para me sentir feliz.
Ainda que por vezes triste, sinto que a noite me faz feliz mas, não uma noite qualquer. A minha noite. A noite em que me fecho dentro de mim e me revejo vezes sem conta… a noite onde tento encontrar algo em mim que até ai desconhecia. Gosto de me analisar e percorrer, de chorar e de sofrer. O sofrimento é a minha inspiração e forma de compreensão. O sofrimento faz-me ver as coisas de forma mais clara e nítida. O sofrimento trás à vista claridades nunca antes vistas e tão límpidas. Os momentos de solidão libertam-me, sou o vento e voo de pensamento em pensamento, sentimento em sentimento. Revivo a minha dor para no final verificar que tudo não passou de um momento magnífico de plena introspecção e encontro do próprio ser que há em mim.
A vida, doce desgaste, doce ferida que nos magoa e surpreende a cada virar de esquina. Que fazer perante tal autoridade tão destemida? Nada mais do que senão senti-la tão profundamente, capaz mesmo de até de destruí-la. Por isso digo que, por vezes, me dói o ser de tanto o ser, dói-me o pensamento de tanto pensar no ser que sou e no que o ser faz de mim…Pensamentos povoados de olhares perdidos por entre fascínios desencontrados… estilhaçados por decisões grotescas que destroem corações e alimentam rochedos de frieza e brutalidade… olhares esquecidos num passado breve distante…

1 de maio de 2007

Sonho

É tudo tão difícil de explicar… de respirar.

Vida essa tão tórrida que nos baralha e confunde.

Eventos óbvios tão errados de serem plausíveis, tão cruéis por serem tão resplandecentes de veracidade… profunda ilusão. Ilusão… amiga tão serena de se ter, Ser tão imaginariamente real que nos sustenta e alimenta de espectros efémeros tão fantásticos, belos e esplêndidos. Invisível, vive da existência dos que a pensam ter e cresce porque acreditamos plenamente que ela nos ajuda a viver e a enfrentar os nossos mais temidos e mórbidos desejos de desaparecer… Dissipação da vontade de viver torna toda a sobrevivência uma dura ilusão de se ver e sonhar.

Ilusão e sonho em tudo se assemelham e em tudo diferem. Sonhamos com ilusões que nos aconchegam o coração de situações impossíveis de acontecer e iludimo-nos porque sonhamos com ilusões que de nada nos valem e tudo nos fazem fazer e sentir.

O sonho comanda a vida já dizia o Poeta mas que são os sonhos senão recalcamentos de impossibilidades que tanto ansiámos tornar possíveis só para satisfazer o nosso desejo materialista de sermos humanos e de queremos porque sim…

Sonhar deve ser muito mais do que isso… sonhar deve nos transportar para mundos que ainda que impossíveis se tornem realmente impossíveis por serem tão ilusórios e tão fieis à nossa idealização. Sonhar exercita o nosso sentido sonhador porque não podemos ter tudo mas podemos sim… ser tudo e todos num só sonho.

Sonhar é a elevação do verdadeiro ser que vive dentro de nós.

Sonhar é nunca querer acordar.

O verdadeiro sonhador é aquele que consegue fazer da vida um verdadeiro sonho.

26 de fevereiro de 2007

Preto no Branco

Pudesse eu descrever a escrita e diria que é como uma pintura a preto e branco, uma pintura que parece nada transmitir e tudo transparece, uma intenção que se esbate e outra que ressurge, uma cor suave que transparece uma cor densa. É como pintar um dia de sol em dia de chuva, querer tocar uma melodia harmoniosa num piano desafinado, querer escrever o que nos vai na alma sem saber escrever. Tudo depende do ser que cria o desenho, a partitura e o texto. A profundidade das coisas não está na obra em si e sim na pessoa que cria, no artista que sofre para pintar um sol num dia cheio de lágrimas e nevoeiro, no músico que ainda desafinado o piano consegue percepcionar a melodia das notas que ecoam. O escritor? Esse apenas só quer mostrar o que sente e o que pensa e quer mostrá-lo por ser profundo e, chega a ser tão profundo que por vezes torna-se impossível de ser descrito de forma a ser verídico ou plausível. Talvez seja por isso que os poetas ou escritores ou simpatizantes da escrita sejam por vezes considerados loucos, loucos por dizerem coisas sem sentido e sem nexo quando pelo contrário são pessoas que conseguem dizer tudo aquilo que os outros não conseguem dizer. São condenados por dizerem verdades e condenados por aqueles que não sabem ler. Chega a ser ridículo mas esse ridículo não deixa de ser também uma verdade. Pobre daqueles que tem olhos e não conseguem ver.

29 de janeiro de 2007

A Palavra não dita

A palavra que é senão uma reacção do homem, um balbuciar sonoro em jeito de comunicação, um grito de ajuda numa emergente situação de aflição. A palavra é um ser que habita no meio de nós, um ser que tomamos nos braços todos os dias e, no entanto, um objecto invisível aos olhos da realidade que não a querem ver.
A palavra uma vez proferida repetida vezes pode ser banalizada ao ponto de se tornar em mera linguagem corrente, em mera comunicação mundana efervescente de perguntas, respostas ou afirmações que acabam, consequentemente, em discursos irreflectidos e inconsequentes. Neste prisma a palavra assume um papel secundário dado que o que realmente importa é a comunicação humana e a passagem de uma determinada mensagem com uma determinada intencionalidade.
Contudo, existe um outro lado da palavra pouco explorado por parte dos seres pensantes e racionais que habitam a sociedade civil. Refiro-me à palavra enquanto personagem principal da sociedade, enquanto ser que, de certa forma nasce, cresce, vive e morre. A Palavra deve ser pensada como uma reacção a um estímulo sobre o qual o próprio ser humano não tem controlo. A palavra é uma presença que nos acompanha sempre a partir do momento que temos consciência dela própria. Uma vez valorizada a palavra enquanto tal todo o discurso proferido, escrito ou pensado terá uma importância e um valor superior. Porque? Porque uma vez percepcionada a importância da palavra, todo o discurso terá uma maior dimensão de significações, isto é, todas as palavras acarretarão uma multiplicidade de significações que irão deliciar o pensamento enigmático do próprio ser que as profere. Todavia, o consequente pensamento enigmático conduzirá a um estado de interiorização e reflexão relativo à significação real da palavra. Esta busca do verdadeiro sentido vai, porém, sugestionar o aparecimento de significações até então não percepcionadas, confundindo assim a reflexão assertiva do ser pensante. Ainda que problemática, este de tipo de reflexão só suscitará o pensamento humano para uma busca viciante de uma verdade suprema e finita, verdade essa que se torna um pouco impossível de concretizar. Mas, é essa procura de uma verdade universal que conduzirá à descoberta de uma vastidão de significações nunca antes desvendadas e que sempre nos remetem para novas palavras. Na verdade o que é a reflexão senão, nada mais do que palavras? O que é pensar senão juntar palavras, construir frases em silêncio. E o que é o silêncio senão um estado fulcral para o nascimento da palavra?

Silêncio e palavra coadunam-se e geram sensações e estados sensitivos. Podemos então dizer que por detrás do silêncio existe toda uma linguagem, todo um conjunto de palavras – ditas e não ditas – que se entrelaçam e formam sentidos aos quais damos o nome de reflexão. Pensar as palavras com palavras é uma difícil busca do ser mas, não deixa de ser uma procura do nosso verdadeiro íntimo, uma procura de uma definição para algo que não conseguimos definir.
É neste sentido que surge todo o mundo poético que irradia a arte de bem explorar a palavra não dita. A palavra verdadeira subjacente a muitas palavras fictícias adornadas de falsidade e ilusão. A poesia requer um trabalho intenso de busca, de procura da palavra real ofuscada pelas não-palavras, aquelas que nada significam aos olhos dos que conseguem ver e que muito confundem os olhos dos cegos racionais que pensam sem pensar.

15 de janeiro de 2007

Significado da Escrita

Uma melodia suave, delicada e profunda eleva-me mais uma vez para esta minha necessidade de escrever. Escrever… não sei bem para quem. Talvez para mim? Ou talvez para ninguém. Esta necessidade de escrever surge porque sim, porque não a sei explicar… simplesmente a sinto e sinto-a de tal forma que escrever é como que um vício ao qual não consigo resistir. È uma necessidade que se iguala ao viver e ao sobreviver. Necessidade de pensar palavras, construir ideias e transparecer sentimentos de dor e de tristeza ou simplesmente de solidão. Não posso, ainda assim, me definir como uma pessoa triste e só. Sou apenas uma mente que pensa demais, um coração que sente demais um qualquer sentimento e tem necessidade de o mostrar. A quem? A todos e a ninguém. Na verdade, isto tudo não passa de uma satisfação pessoal em que não tenho de provar nada a ninguém e, apenas, simplesmente saciar um desejo que é escrever.

Mas escrever o quê?... escrever aquilo que uma força interior desconhecida me pede para escrever ainda que sejam palavras banais, ainda que sejam pensamentos sem sentido, ainda que sejam palavras soltas, ainda que tudo não passe de um simples desabafo… Escrevo porque sim! Porque a escrita é a minha vida e quando não escrevo, vivo atormentada por não o conseguir fazer… há uma escuridão interior que não me deixa visualizar as minhas mais profundas entranhas… que me gelam as mãos e me impedem de escrever. Então surge o silêncio, a escuridão… observo imagens recortadas nas paredes frias do meu pensamento, junto recortes de letras e construo palavras, mas está escuro e não consigo ler tudo o que desenhei…

Então sento-me no chão. Junto as pernas dobradas e encosto-as ao peito, unindo ambos com os meus braços e, baixando a cabeça resignada, fecho os olhos na ânsia de conseguir alcançar um feixe luz, uma imagem ainda que a preto e branco… tento encontrar a vida.

Contudo, a escuridão agora não só é interior como também exterior… já não consigo ver nada mais do que somente a escuridão, o vazio, o silêncio… então é aí que encontro o nada. Nada vejo, nada sinto e nada penso. Despida de ideias e pensamentos resigno-me a este meu estado de aniquilação. Fecho os olhos outra vez mas, desta vez, para esquecer tudo e assim sou arrebatada por um estado de sonolência que me salva deste profundo descontentamento que é não saber o que escrever quando se tem mais do que demais para dizer.

Thoughts...

Há uma paz que me reconforta, neste dia de sol quente… melodias silenciosas engrandecem todo o meu pensar. Nada há a desejar, nada há a duvidar… nada há para pensar. Tudo se ficou pelo olhar, tudo para ver e contemplar. Abri os olhos e… deixei-me levar pelo meu próprio voar que me leva para lá do meu próprio meditar…

Calma, súbita, discreta e melodiosa que me enche de Paz, de silêncio. Um vazio reconfortante que vale a pena sentir sem nada para preencher… só o vazio…o nada de ser… o ser nada. Um nada sem sentir… não sentir nada apenas sentir que nada se sente… apenas ser. Ser aquilo que nem sei o que é mas, sê-lo sem o questionar… sê-lo sem saber e… sabê-lo sem o ser.

4 de janeiro de 2007

A Casa do Lago

Paredes de vidro
Transparecem o esplendor do rio mudo…

Cisnes Cintilantes

Desenham com um toque de veludo

E o sol…

Esse… traz luz, vida…

E enche o coração de vontade de viver

De vontade de sorrir

E talvez até vontade de sofrer

Porque sofrer nem sempre só trás dor…

Sofrer dá sabedoria…

O sofrimento é a sabedoria dos simples

Que muito lutam para ser felizes

Mas que nem sempre conseguem

Conformados…

Suspensa sobre a água

Rodeada por tudo o que é Natureza

Vive suspensa num espaço isolado

Tão repleto de nada.

Um nada que é tudo

Para quem pouco anseia…

Nada mais que nada

Satisfaz qualquer ser do nada

Para quê querer ter tudo

Se não se sabe viver sem nada…

Ilusão…

Essa Casa do Lago

Onde idilicamente vivo

É o meu espaço impossível

Onde o meu espírito sabe viver

Nessa casa do lago

Vive o Eu que não suporta a realidade

A frieza dos humanos

A incompreensão dos racionais

E a ignorância de quem não quer ver

O ser verdadeiro Ser.

12 de Novembro de 2006

(Baseado no filme The Lake House)