30 de dezembro de 2007

Perdão

Incessantemente procedemos de forma errónea.

Falhamos propositadamente e pecamos. Somos seres humanos que fazemos da vida um triste pecado constante. Vivemos aceleradamente da excêntrica e eléctrica vontade de ter tudo o que se deseja ter. Queremos ser invencíveis e imortais num Mundo de cadáveres cadavéricos perdedores de vontade de ser alguém.

O corpo move-se não derivado a um sentimento ou dever.

A vontade move o Mundo. A ganância move a vontade. A avareza cria a ganância e... onde se encontram os singelos desejos de sonhar com a possibilidade de ser feliz, ainda que por um dia... uma hora... um segundo... um instante.

O que é ser feliz, na verdade?

Engano-me pensando que ainda existem pessoas que pensam de forma semelhante à minha, que sentem tal como eu sinto e que anseiam apenas, todos os dias, por um perdão...

Perdão porque também eu tenho ansiosas vontades materialmente viciantes de ter.

Perdão por ter de ser outro alguém para, assim, não me magoarem.

Perdão por ter de me esconder bem atrás destas letras simples que serenamente desenham palavras irmanadas de sentidos.

Já ninguém pede perdão porque já ninguém se preocupa com ninguém.

Cada um é um só.

Não há nada para perdoar.

Ainda assim, anseio todos os dias pelo meu perdão.

Anseio-o porque acredito que há mais que apenas um só.

Acredito porque acreditar é ser diferente num Mundo de iguais. É ser feliz ainda que por efémeros momentos efémeros. É chorar de alegria porque alguém reparou que estávamos bem ali... É ver e sentir todos os que estão longe da visão e não esquecê-los. É saber não esquecer quem somos e lutar por nunca o deixar de fazer.

Acreditar é saber esperar pelo momento...

E perguntas, tu, leitor Que Momento?

O momento de ser, não pelos outros mas por nós... por ti.

Eu acredito.

E peço perdão.

29 de dezembro de 2007

Cimo de mim...

Prisão transparente que reflecte uma tonalidade diferente da realidade... É uma boa forma de dizer ilusão... sonho ... irreal...
Todos vivemos mundos paralelos... entre o ser e o não ser... Onde somos seres perdidos cheios de cruas ambições ou na verdade somos pequenos seres que não sabem qual o seu verdadeiro ser.
Tal como o aprendiz secreto também eu subo à montanha do nada para assistir ao meu acontecer. Aconteço-me e sou... Aqui no cimo da montanha vejo tudo...contemplo-a e vejo, nada mais do que, o meu próprio reflexo, isto é, o reflexo dos meus desejos, das minhas angústias, dos meus problemas e dilemas. Todos estes problemas e angústias serão como que as paredes da minha construção sendo o interior desta, a minha verdadeira essência a qual permanece dentro destas paredes forradas de sentimentos.
A essência da minha construção será então a minha essência – uma simples brecha luminosa – que reflectirá ecos do passado que levarão à construção de um futuro, de um mundo novo que despertou e nasceu da força do ser.
Aqui bem no cimo consigo sentir o meu verdadeiro ser... despido de preconceito e materialismo. Despido de mentiras e falsidades. Aqui impera o silêncio como linguagem primordial. Ouço-me em ecos de alegria e simplicidade e sinto-me livre... tão livre que me atiro da montanha só para sentir a brisa suave e terna do vento doce.
Caio lentamente, como se tivesse a oportunidade de assistir a todos os momentos da minha vida... um a um...
E vou caindo... o chão aproxima-se mas não tenho medo...
Sou livre.
Posso morrer.

26 de dezembro de 2007

Broken...

Fly little angle with dark wings... be free to believe and to trust... We are all broken deep inside because we don't know how to feel alive, we don't know how to live without fear and pain!

Spread your wings and fly... little angle with dark eyes...

22 de dezembro de 2007

O Sorriso é a Sombra de uma Lágrima

Olho para trás. Vejo uma porta fechada. Curiosidade. Abri. Olho em frente e vejo tudo o que perdi.
Lembranças mudas gritam por mim, incessantemente, gritam por um nome, por um motivo, gritam para que ninguém as esqueça como se quisessem ser libertadas do esquecimento aterrorizante que é ser-se não lembrado. Não as posso libertar. Há muito que as abandonei porque não as sabia salvar. Não as sabia concretizar porque não podia... não podia... nunca pude... nada. Sempre fui esquecida também. Sempre fui não lembrada e é isso que não quero lembrar mais, que se esqueceram de mim quando eu estava ali, bem presente, à vista de todos os cegos que não me viram.
Como puderam se esquecer de mim se eu estava ali? Como puderam dizer que não me viam, mesmo em frente a mim? Como puderam se esquecer de mim... se... como puderam...
Vivo com esse esquecimento até hoje. E por vezes sinto que fiquei esquecida naquele momento que já foi há tanto tempo e que lá, ainda, estou... esquecida por todos aqueles que eu queria que se lembrassem, por todos aqueles que eu nunca esqueci e que agora queria esquecer mas não consigo... não consigo esquecer quem se esqueceu de mim por isso mesmo... porque se esqueceram de mim.
Desculpa.
Nunca o consegui fazer – perdoar. Nunca consegui apagar da minha memória o dia em que se esqueceram que eu estava ali, que estava ali, bem ali... na fila da frente... bem ali... na frente...Eu estava bem na frente... como foram capazes de me pedirem perdão? Será que, algum dia, se perdoaram, na verdade?
Não sei... à distância temporal em que me encontro, sinto que já não me magoa tanto lembrar tal dia. Ainda assim, sinto como se fosse hoje, sinto o que senti naquele... senti-me tão triste, tão fraca, tão vulnerável... nada que me pudessem dizer iria alterar um sentimento tão grande para um ser tão pequeno e jovem... sim! era um criança a viver um dia de imensa grandiosidade... dia esse que foi rasgado aos poucos, a cada minuto que passava...
Uma parte de mim ficou cinzenta nesse dia.
Nunca pensei que o cruzar com estas lembranças me fizessem sangrar tanto ou mais do que naquele. Roubaram-me a felicidade, roubaram-me o sorriso, roubaram-me a inocência...
Cresci.
Tenho de sair daqui... ter aberto esta porta faz-me lembrar que fui esquecida um dia e... não o quero sentir mais. Lembrar que me partiram o coração em lágrimas faz-me sentir revolta, vontade de gritar bem alto Porquê Eu? Porquê... Porque sempre me lembrei e por isso... me esqueceram...
Estas lembranças só me fazem reviver aquilo que sou, que sempre fui e sempre encobri ser e hei-de encobrir até que a alma me doa.
Fecho a porta.
Para trás fica aquilo que fui.
Sorrio... e ainda que seja um sorriso triste... Sorrio.
Se me vires sorrir, sorri também. Ainda que o meu sorriso seja triste sei que o teu será sempre sincero.
O meu sorriso será sempre a sombra de um lágrima.

21 de dezembro de 2007

Sentidos Desligados

Mão Leve
Toque de serena Luz
Sentimento Virgem
Que conquista e seduz

Brisa suave
Emanadora de alegria
Doce lágrima salgada
Feliz solidão fria

Palavras ao vento soltas
Sentimentos esvoaçantes nulos
Caras cobertas de veludo
Corações bordados de espinhos

Noite escura Feliz
Dia brilhante quebradiço
Pena leve triste
Letra de pedra dura
Faz da intocável amargura
Um poema de curtas estrofes

Lágrimas cintilantes
Constroem palavras cortantes
Brotadas de um pensamento constante
De uma Solidão inquietante

Palavras sem nexo
Com todo sentido ou nenhum
Ideias desligadas
Por um fio comum
São novelo de aço
Que faz meu Mundo só um...

20 de dezembro de 2007

Lágrima

Um sentimento sombrio invade o coração e fá-lo palpitar aceleradamente. Um aperto constante causa uma sensação de dor refinada que nos percorre o corpo de forma incessante e constante. Um frio arrepio de dor causa uma estranha fraqueza desconhecida que nos faz sentir como frágil cristal... que pode quebrar apenas com a brisa de um pequeno suspiro suave.As pernas enfraquecem, todo o corpo fica dormente e sem reacção.
Caímos no chão frio sem razão aparente. Já não conseguimos visualizar o sítio onde estamos porque começamos a perder a visão.Subitamente começamos a sentir o estômago contraído, a face começa a desenhar expressões de tristeza e as mãos auxiliam a chegada de um triste desabafo.Surge então o primeiro indício de grande grandiosidade, pureza e divindade... surge tudo aquilo que resume uma fraqueza, tudo aquilo que ninguém consegue esconder e ninguém evitar... surge o despoletar de todo um sentimento em constante evolução...
E assim brota a primeira lágrima do seco rosto entristecido. Como é bela uma lágrima. Incolor ser doce e límpido de maldade. Ainda que por vezes grande indício de tristeza não deixe de ser um milagre natural difícil de caracterizar e tão delicado de explorar.Qual a verdadeira origem da lágrima? Onde irá culminar? Não sabemos de onde vem mas rapidamente é absorvida pelo rosto dando lugar a outras lágrimas nunca iguais à lágrima primitiva que será sempre a verdadeira razão de todo um sentimento ardente ou descontente.
Porque choramos?
Porque choras?
Eu choro porque sinto que me liberto de todo um sentimento que me prende a alma de respirar, choro porque assim consigo expelir de dentro de mim todo um sentimento que meu corpo rejeita ou choro porque estou triste e assim me quero sentir.
A lágrima é o culminar do alcance do verdadeiro estado solitário, é sinal de vigília interior e reflexão pessoal.
A lágrima é, muitas vezes, a chave das portas da Solidão.

18 de dezembro de 2007

Requiem

Sinto frio!
Os meus olhos não conseguem distinguir a forma das coisas, tudo parecem manchas, sombras, ilusões ou talvez alucinações. Está muito frio. Já não sinto o meu corpo mas ainda assim sinto frio. Não sinto o bater do coração mas continuo a sentir frio. Já não vejo nada e o frio começa a dissipar-se ... Já não sinto nada. Lá longe os sinos da igreja tocam tristemente... não são horas... nem são as ave-marias... os sinos anunciam a morte de alguém. Não gosto nada do repicar fúnebre que os sinos ecoam, trazem tristeza e curiosidade. Ainda que seja um acontecimento triste, todos procuram saber quem faleceu e todos fazem questão de estar presentes para quê? Não vejo qual o sentido de ir para um funeral quando não se tem nenhum laço, ou ainda que tenha um pequeno vínculo... muitos dizem que vão por respeito e até ai compreendo mas, por vezes, como podem as pessoas serem capazes de dirigir uma palavra a uma pessoa que só quer controlar a sua dor, gritar bem alto que quer sair dali e que não precisa da pena de ninguém e só quer apenas um minuto de paz, de quietude e silêncio para chorar... e relembrar todos os momentos que deveriam ser lembrados em vida e não agora na morte.
Sinto frio.
Ouço pessoas a chorar, será que é alguém que conheço? A morte é algo que me assusta porque não sei como devo lidar com ela. Dizem que quando morremos só fica a alma, perdemos a forma que temos enquanto humanos e só fica uma pequena aragem, um pequeno respirar de alguém que já não respira mais. Parece que nos transformamos numa brisa leve incolor... Começo a ouvir ecos de uma melodia fúnebre bem pesada e grave. Ouço passos, pessoas a caminhar... sinto como se viessem mesmo atrás e mim mas não percebe porquê. Nestas alturas as pessoas alinham-se para seguirem a pessoa na sua ultima caminhada no mundo dos vivos. Muitos lamentam-se, outros choram aceleradamente e outros nem sabem o que sentir... ninguém sabe o que fazer perante tal potencia tão esmagadora e imprevisível.Não sei porque sinto tanto frio... mas afinal onde estou? Parece que estou a sonhar de olhos abertos mas está tudo tão sem cor, forma e cheiro?! Não sinto o meu corpo, não vejo e deixei de ouvir. Está tudo tão escuro e a única coisa que sinto é que... não sinto... não sinto nada...
Sinto frio, não vejo, não sinto e estou sozinha...
Afinal quem morreu?
Serás tu? Ou serei eu...


16 de dezembro de 2007

Revisitar-me...

Porque sinto tanto esta necessidade de recorrer à escuridão para escrever e pensar?... porque só o silêncio, o escuro e a solidão evocam em mim esta necessidade de me expressar? Sinto falta de o fazer. A agitação diária faz com que não me pense e me reflicta e isso faz-me ficar estanque sem evolução e sem saber o que escrever... ainda agora sinto vontade de tanto escrever, de me retratar e retratar este doce silencioso escuro canto solitário que me faz recordar de uma forma que só eu sou.

Saúdo as minhas vísceras mais profundas e repenso todo um passado que me caracteriza, cicatriza e molda o rosto da minha alma. É solitário sentirmos que não conseguimos comunicar com mais ninguém porque mais ninguém nos entende... porque não nos percebemos se falamos a mesma língua?

Sempre senti necessidade de me expressar, de me auto compreender porque sempre me considerei difícil de compreender, sempre cheia de restrições ocultas que só eu mesma podia descodificar.

Revisitar as minhas entranhas lembranças faz-me sentir dor... sinto o coração sangrar porque sinto que me estou a ferir ao revisitar locais tão obscuros, tão esquecidos mas dignos de ser visitados. No entanto, dolorosos de ser revividos.

É bom pensar-me. Faz-me crescer, aprender e conhecer.

Sempre gostei de sentir que bem dentro de mim existe um local que nunca ninguém irá encontrar, um local que nunca irei compreender e, por isso, um local que sempre irei procurar e visitar na ânsia de sempre encontrar algo que ainda não tenha conhecido, algo que já não me lembre...

Ainda que me sinta triste ao revisitar este lado de mim, gosto de o sentir e de o ser ainda que por solitários instantes efémeros.