18 de maio de 2007

Felicidade Sofredora


Na minha alma ignóbil e profunda, dia a dia, as impressões que formam a substância externa da minha consciência de mim. Ponho as em palavras vadias, que me desertam desde que as escrevo, e erram, independentes de mim, por encostas e relvados de imagens, por áleas de conceitos, por azinhagas de confusões.
Fernando Pessoa
Sinto-me triste porque sim! Porque assim me preciso de sentir, porque assim me compreendo e entendo este estado depressivo que me tira o sono e faz meu pensamento viver dia e noite.
Rapidamente o meu batimento cardíaco se torna acelerado e parecendo que vai rebentar, saltar fora do peito e explodir de um sentimento de angústia que não sei descrever. Um sentimento de fúria acumulado que me faz sentir tão revoltada e tão frustrada com as atitudes que adopto para evitar este estado de profunda desconcentração mental e psicológica.
No entanto, sinto que este estado de profunda escuridão por vezes se torna necessário. A escuridão faz-nos ver com clareza as realidades da vida e as ilusões dos sonhos. Tantas pessoas vivem a realidade do dia tão intensamente e de forma tão efusiva mas será que são felizes? Será que alguma vez, ainda que por meros e efémeros segundos se consideraram felizes? Talvez sim e ainda bem se assim for.
Eu já me senti feliz por várias vezes mas só a noite me dá esse prazer, só a paz do silêncio quieto me proporciona a atmosfera que preciso para me sentir feliz.
Ainda que por vezes triste, sinto que a noite me faz feliz mas, não uma noite qualquer. A minha noite. A noite em que me fecho dentro de mim e me revejo vezes sem conta… a noite onde tento encontrar algo em mim que até ai desconhecia. Gosto de me analisar e percorrer, de chorar e de sofrer. O sofrimento é a minha inspiração e forma de compreensão. O sofrimento faz-me ver as coisas de forma mais clara e nítida. O sofrimento trás à vista claridades nunca antes vistas e tão límpidas. Os momentos de solidão libertam-me, sou o vento e voo de pensamento em pensamento, sentimento em sentimento. Revivo a minha dor para no final verificar que tudo não passou de um momento magnífico de plena introspecção e encontro do próprio ser que há em mim.
A vida, doce desgaste, doce ferida que nos magoa e surpreende a cada virar de esquina. Que fazer perante tal autoridade tão destemida? Nada mais do que senão senti-la tão profundamente, capaz mesmo de até de destruí-la. Por isso digo que, por vezes, me dói o ser de tanto o ser, dói-me o pensamento de tanto pensar no ser que sou e no que o ser faz de mim…Pensamentos povoados de olhares perdidos por entre fascínios desencontrados… estilhaçados por decisões grotescas que destroem corações e alimentam rochedos de frieza e brutalidade… olhares esquecidos num passado breve distante…

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